
Some people choose to see the ugliness in this world. I choose to see the beauty.
Eu vou tentar trazer um pouco de Westworld sem spoilers. Eu vou tentar, mas não me responsabilizo. Nem o que eu queria falar é precisamente sobre a série, mas também é. Sei lá, vamos lá.
Resumindo grosseiramente, Westworld é uma série da HBO que mostra um mundo em que a tecnologia e inteligência artificial foi desenvolvida ao ponto em que foram construídos androides quase idênticos aos humanos (GROUNDBREAKING hein, mas na real é baseado em um filme de 1973, então temos que dar o braço a torcer). E aí, o que se faz com toda essa tecnologia de ponta? Paz e harmonia mundial? Claro que não. Se faz um parque de diversões em que humanos podem expurgar todos seus desejos e vícios mais terríveis naqueles que poderiam ser eles mesmos (terapia pra que quando posso encher o robô-quase-igual-a-um-humano de bala?). Óbvio que não é só isso, mas aí eu já estaria entregando demais.
Some people choose to see the ugliness in this world. I choose to see the beauty.
Essa frase abre a série e percorre inúmeros momentos da trama. Num primeiro momento achei o tom quase piegas, ainda mais no contexto, num cenário idílico e tão perfeito que beira o artificial. Quem insistentemente apresenta essa visão de mundo é a protagonista androide da série, Dolores. Parece uma visão afetada por uma síndrome de poliana da vida e a frase se perde nesse contexto. Seria uma abordagem ingênua apenas? Que de um contexto horrível de exploração nos resta se apegar às coisas bonitas? Que o mundo está todo ao avesso, e que a maior parte das pessoas que passa pela sua vida é egoísta e sem o mínimo de respeito pelo próximo. Mas olha, um vídeo de um filhote de cachorro te fez sorrir hoje. Valeu a pena, né?
Só que entre mil reviravoltas, que não vou estragar aqui por respeito a você que talvez esteja lendo isso aqui e ainda não assistiu a série (mas não sem deixar claro como estou morreeeendo pra me segurar e não discutir cada personagem, cada surpresa da história e rumo inesperado. Enfim queria muitos spoilers mas estou me segurando), também o contexto mudou e transformou um pouco essa frase. Ao menos pra mim.
Some people choose to see the ugliness in this world. I choose to see the beauty.
Não dizem que tem coisas que crescem na gente? Talvez a repetição? Se eu inseri-la mais uma vez nesse texto será que você também vai ver o mesmo que eu vejo?
Tentando, mais uma vez, ser clara e não entregar muito da história, nessa terceira temporada, posso dizer que agora Dolores enfrenta um contexto mais adverso ainda. O pau tá comendo solto, é isso que tá acontecendo. Tá todo mundo se quebrando lindamente, coisas explodindo. É bonito de se ver. Digo, hum, ficcionalmente. Dolores está se preparando pro embate final (qual é essa etapa mesmo naquela jornada do herói?). Já não ousaria dizer que a protagonista é tão ingênua e inocente assim. Afinal, após viver muitas vidas, você acaba aprendendo uma que outra coisa aqui e ali. Planos de romper com o status quo, instaurar uma revolução, tomar os meios de produção, reivindicar o livre arbítrio (essas coisas que a gente espera todo dia enquanto toma seu café da manhã).
Um corpo estendido no chão.
Some people choose to see the ugliness in this world. I choose to see the beauty.
No final das contas, ao que a gente se apega nesse mundo? Algum motivo deve ter. Uns motivos aparentemente mais profundos, outros fragilmente superficiais. Em alguns dias uns vêm mais fortes, outros nem tanto. Tem dias que eu quero dormir pra que o dia acabe logo mesmo. Tipo: hoje já deu, vamos cancelar o dia. Acelerar o vídeo pra frente e amanhã começamos de novo pra ver se dessa vez a gente acerta. Travou o sistema, segura o botão e reinicia tudo manualmente. Tem outros dias em que eu quero dormir logo pra tomar café da manhã porque já planejei a refeição inteira na minha cabeça (e você não deveria julgar quem não menospreza um bom café da manhã). E nenhuma motivação é pequena demais, insignificante. Por que afinal qual é o sentido disso tudo?
Seria… o sentido que a gente dá?
I choose to see the beauty.
De certa forma escolher ver a beleza é um pouco de teimosia. E não olha assim pra mim, eu tenho grande apreço pela teimosia. Eu sou uma prova viva da teimosia. Eu sou 70% água e 30% teimosia. É um pouco de teimosia porque ser sistematicamente jogado num universo de adversidades, de complexidades e profundas incoerências (do mundo, suas, minhas), não é suave. Ou fácil. Nem tranquilo.
Não acredito que seja de boas olhar pra fora e ver estruturas ruindo. Ver surgir o mundo da pós verdade. Também não é fácil ver que dentro de si a situação pode não ser tão melhor assim. Ver que você também é criatura incompleta, incoerente, imperfeita (e tudo bem?). Eu poderia estar fazendo mais, poderia pelo menos atrapalhar menos, né? A gente também pode muito bem escolher uma visão cínica da vida. Fingir que não se importa, andar de mãos dadas com a apatia, essas coisas. E ok, faz o que tu quiser, a vida é tua afinal. Bem, a vida é tua. Mas por quê? Eu prefiro continuar sendo teimosa.