Entre julho e setembro desse ano fiquei focada na produção do meu primeiro curso online. Fiz uma aula introdutória sobre Visual Notes e publiquei no Skillshare. Foi a primeira vez que construí algo assim e queria compartilhar um pouco das minhas impressões e aprendizados nesse processo.

Skillshare: o que é e qual a proposta?
Skillshare é uma plataforma online com uma proposta de ser uma comunidade de ensino. Por lá qualquer um pode criar e compartilhar sua própria aula, seja sobre artes, culinária, empreendedorismo, tecnologia, e por aí vai. Tem milhaaaares de aulas interessantes, criadas por professores de todos os níveis de habilidade e com trajetórias diversas: desde grandes artistas e profissionais que são referência em seus campos de atuação até iniciantes como eu (oi!).
Há aulas que são postadas e liberadas de forma gratuita, mas a maioria está disponível somente aos assinantes (chamados Premium users). Como funciona? Você paga um valor em um plano mensal ou anual e tem acesso liberado a todas as aulas postadas no Skillshare. Não tem tipos diferentes de planos (tipo VIP, essas coisas), e também não tem aquele esquema de pagar individualmente por cada curso, como em outras plataformas de ensino. Pra mim isso é muito mais interessante. O valor anual é relativamente acessível: 99 dólares por acesso livre em um ano inteiro. Pra nós aqui no Brasil o problema maior é o dólar nas alturas que deixa esse valor cinco vezes maior. Mas mesmo assim, pela quantidade de material disponível e pelo feedback direto dos professores nos projetos de cada aula (que é outro ponto muito bacana de lá), pra mim vale muito esse investimento.
Eu já vinha usando a plataforma há algum tempo para estudar, assinei logo no início desse ano, e fui cada vez mais me apaixonando pela proposta, até que recebi um e-mail sobre um desafio chamado Teach Challenge para criar e publicar sua primeira aula no Skillshare. Pensei: por que não?
Teach Challenge: orientações e organização para construção do projeto
Para auxiliar na criação de cada aula, o Skillshare disponibiliza uma série de documentos de apoio e manuais através do Teacher Handbook. São dicas e instruções para fornecer suporte aos professores, desde as definições mais iniciais como sobre o conteúdo da aula até apoio em questões técnicas como captura de som e imagem, além de edição.
Especificamento no Teach Challenge, você e um grupo de outras pessoas que estão dispostas a criar suas aulas, ficam vinculados a um desafio específico com datas pré determinadas de entrega. Isso faz tooooda diferença! Tudo bem que a gente precisa sempre respeitar nosso ritmo e tempo, mas o empurrão de uma data de entrega e o compromisso com a comunidade fazem o trabalho fluir.
Além desse desafio, o Skillshare também disponibilizou suporte individual para algumas pessoas que já tinham uma proposta mais formatada. Felizmente foi o meu caso e tive o apoio, via e-mail, da Stephanie (alô Stephanie, muito obrigada <3). Basicamente a gente trocava e-mails sobre como estava meu andamento, ela me encaminhava as orientações de cada etapa e opinava sobre os materiais produzidos. Esse acompanhamento me ajudou um monte e me deu muita confiança durante o processo. Além disso, também tive a sorte de ganhar um voucher de $25 do Skillshare pra comprar um microfone de lapela. Esse microfone veio em excelente momento, mas ainda assim o áudio e captura foram minhas maiores dificuldades em todo esse processo, como vou contar em mais detalhe daqui a pouco.

Organização pessoal (como fazer o projeto acontecer)
Os materiais de apoio e orientações do pessoal do Skillshare foram essenciais para o pontapé inicial de produção, mas mesmo assim tive que encontrar a minha forma de organização para fazer o projeto acontecer.
Criar uma aula em formato de vídeos envolve diversas competências. Começando que, obviamente, você tem que saber a matéria em si, saber organizá-la de forma didática e prática. Além de saber o que falar, você também precisa ter noção de como gravar o conteúdo com uma boa qualidade de vídeo e áudio. Ah! E depois é preciso editar tudo de uma forma que seja interessante e também tenha sua personalidade. Tá fácil né?
Como era um projeto bem diferente de tudo que fiz antes, confesso que demorei até me achar no processo. Minha experiência com audiovisual foi bem breve na faculdade. Curtia muito fazer uns vídeos de stopmotion, enganava numas edições e entendo um pouco de Premiere e After Effects. E é isso.
Tentei uns primeiros testes de vídeo improvisando, sem ter o texto escrito ou ensaiado e me senti muito desconfortável. Acho que também o fato de gravar em uma língua que não a minha nativa dificultou mais ainda essa parte. Na sequência também vou comentar sobre a escolha de gravar a aula em inglês.
No fim das contas vi que pra era melhor escrever o roteiro de todas as aulas antes de gravar ou começar a desenhar qualquer material de apoio. Decidi, então, montar um texto mais simples e objetivo possível, pra emular a fala mesmo.

Depois de finalizar todas as páginas é que criei coragem pra encarar gravar os vídeos de fala novamente. Em uma tarde gravei tudo que precisava e planejei depois gravar as demonstrações dos desenhos, os áudios e por último criar digitalmente visuais e desenhos para inserir na edição dos vídeos.
Até chegar nessa linha de organização texto – vídeo – áudio – desenhos – edição foi muita tentativa e erro. E procrastinação.
Publicado e concluído: e agora?
Sem dúvidas a parte mais difícil por aqui foi a divulgação. O Skillshare disponibiliza aos professores criar links de acesso gratuitos as suas aulas. O porém é que você não é remunerado pelos minutos assistidos gratuitamente (no próximo item explico melhor como funciona a remuneração por lá). Criei alguns links gratuitos e disponibilizei nos primeiros dias de lançamento para gerar um movimento.
Contei com um super apoio especialmente das amigas mais próximas (quem tem amigas tem tudo), que não só assistiram às aulas como postaram seus projetos e me deram feedbacks que me deixaram super feliz e mais confiante no meu trabalho. Aprendi na prática que essa rede de apoio, não importa o tamanho, faz toda diferença.
Não tenho zilhões de seguidores nas minhas redes sociais, então minha rede de alcance para lançamento de qualquer coisa não é muito grande. Daqui pra frente é continuar produzindo, evoluindo meu trabalho e também estudar um pouco mais sobre divulgação, marketing digital e essas paradas todas. Divulgação e marketing não são minhas partes favoritas desse processo todo, mas vi que é preciso desenvolver essas competências porque de que adianta tanto cuidado para produzir algo que não vai chegar até as pessoas?
Remuneração
E todo esse trabalho tem retorno? Sim, ainda bem! Como comentei por cima, o Skillshare remunera os professores por minutos assistidos por quem é usuário Premium e também por indicação de novos usuários/alunos. Por exemplo, por cada usuário novo que assina a conta Premium atráves do meu link da aula, ganho USD 10. O cálculo do valor por minuto assistido não ficou muito claro pra mim, mas nesse primeiro pagamento, tive em torno de 350 minutos assistidos e uma remuneração de 19 dólares. Com a cotação do dólar nas alturas e, pensando que se tivesse um canal do Youtube ia ter que esperar pelo menos um ano pra poder começar a monetizar os vídeos (por causa das exigências de número mínimo de inscritos, etc), eu acho que tá valendo. Tem muitos profissionais e artistas que se dedicam quase que exclusivamente a essa plataforma para sua renda, e tem gente que tem centenas de alunos por aula. Sendo otimista, acho que meus vinte pouquinhos alunos e dezenove dólares podem ser um começo.
Aprendizados e tudo mais
O prazo final de postagem do desafio era 30 de Agosto, mas aqui o ritmo foi outro e só consegui finalizar e postar tudo em 24 de Setembro. Fiquei feliz por ter sido teimosa e mesmo passando quase um mês do prazo não ter desistido de tudo.
Depois de finalizado esse projeto, fiz um momento reflexã e seleciono aqui alguns pontos de aprendizado:
- Escolhi gravar as aulas em inglês pensando na língua mais usada na plataforma e com objetivo de ter um alcance de público mais amplo. Queria muito atingir e formar um público de fora do país e pensei que hoje, pro bem ou pro mal, o inglês acaba sendo a língua mais utilizada por diversos países. Não são só alunos dos Estados Unidos, tem pessoas do México, Rússia, Índia, e por aí vai. Por outro lado, sei que muita gente que acompanha meu trabalho, mesmo que não seja um público enorme (pois proud artista pequena <3), é basicamente de brasileiros. Penso muito que as pessoas também não tem obrigação de saber outra língua (algo que em nosso país e sua realidade socioeconômica é muito mais relacionado à privilégio que mérito) e gostaria também de compartilhar conteúdo da maneira mais acessível possível. A opção que tenho em mente é no futuro focar em conteúdos em português em outras plataformas que também sejam gratuitas para assistir, como o Youtube, e continuar com aulas em inglês para o Skillshare (por que pra continuar produzindo conteúdo a gente também precisa de uma renda e tudo mais). Pesquisar formas de legendar os vídeos também é outra opção interessante e essencial em termos de acessibilidade.
- Para uma próxima aula também seria interessante desenvolver um plano de divulgação mais estruturado. Talvez postagens apresentando o projeto antes do lançamento, criar expectativa. Sempre me senti meio chata de ficar monotemática na internet, mas vi que funciona e é preciso avisar e divulgar mais de uma vez. Uma postagem pode até gerar interesse, mas as pessoas esquecem, se distraem, deixam pra depois. Não precisa virar spam, mas um aviso aqui e ali ajudam. Tudo é questão de equilíbrio. E planejamento. (E organização.)
- Apanhei muito na hora de editar o áudio. Pra se ter uma ideia, gravei várias cenas de vídeo, falando pra câmera, mas que no fim não consegui usar quase nada pela péssima qualidade de áudio. Era som vazando, barulho de carro da rua, eco da sala. Aí que a gente vê como uma produção é essencial e que nem tudo dá pra arrumar na edição, principalmente o som (aprendi da pior maneira, risos).
Próximos passos
Enfim, trabalhei horrores, tive bons momentos, mas também algumas frustrações e aprendi um bocado com tudo isso. Tentei deixar de lado a vergonha e fui lá e gravei minha cara, minha voz e meus desenhos pra internet toda (nervouser). Se faria tudo de novo? Com certeza e até tô planejando umas próximas aulas. Quero continuar aproveitando essa minha mistura de teimosia e curiosidade que me permite ainda ficar empolgada com os erros e aprendizados vindouros.
ATUALIZAÇÃO: Hoje, 27/10/20, recebi um e-mail com o prêmio de um ano de assinatura Premium do Skillshare por ter participado do Teach Challenge e publicado a minha aula! Então, reforço que tá valendo muito! Participem do Teach Challenge, tem uns 4 por ano (um a cada estação!) e o próximo agora é em janeiro – Winter Teach Challenge, dá bastante tempo de ir estruturando uma boa aula até lá 😉